domingo, 26 de outubro de 2008

DESCOBERTAS


Assim começa meu dia durante a semana: acordo sem a mínima vontade de me levantar, refaço a cama, tomo um banho para suavizar as marcas de lençol do rosto (aqueles não-sei-quantos fios sequer passam perto do meu quarto), tomo um café básico: café com leite, pão com queijo, pego minha merenda (maça ou banana) e almoço (misto congelado e salada de folhas e tomate num pote de iogurte que eu reciclei) e vou para a escola de italiano que é pertinho da minha casa.
Saio uma hora antes de acabar a aula porque tenho apenas 30min para chegar na universidade de metrô. Na sala-auditório somos 350 alunos. Sempre chego em cima da hora e esbaforida. A aula termina 15h e vou almoçar.
Sento na pracinha, abro meu embrulho de papel laminado e meu pote de plástico e mato minha fome. Pego o metrô de volta e chego em casa para fazer minhas tarefas domésticas. Roupa para lavar, roupa para passar, fazer o jantar, organizar os lanches e almoços, varrer o quarto, estudar, ir ao supermercado etc.

“BEM VINDA AO MUNDO REAL” já dizia minha amiga Larissa.
Confesso que relendo o texto acima, meu cotidiano é igual ao de tantas outras pessoas, que além das minhas tarefas hodiernas acrescentam inúmeras outras como trabalhar, marido, filho, parentes e tal. Porém atrás desta vida banal existem inúmeros aprendizados e conquistas que me fazem amar o meu dia-a-dia extraordinariamente comum.
Descobri que o sanduíche congelado se transforma no sanduíche mais fresco do mundo 6h depois de sair do freezer, fica perfeito!
Descobri que comer no banquinho da praça vendo as árvores, os pássaros e as pessoas que passam é mais prazeroso do que olhar para a pia da cozinha ou para a janela do vizinho. Agora no outono fica tudo mais bonito!
Descobri que detesto pombos. São sujos, caras-de-pau e intrometidos. Descobri também que sou o alvo deles. Já fizeram cocô na minha cabeça, no meu braço, no meu ombro...Aqui na Itália dizem que traz sorte, veremos!
Descobri que os queijos e embutidos da Itália são capazes de transformar um simples misto em algo precioso. Invento mil e uma combinações. Faço um tipo diferente de cada e coloco tudo no congelador.
Estou começando a colocar nos sandubas geléias, pimenta, azeitona, para aumentar minha surpresa. Nunca sei se meu sanduíche será agridoce, picante, com presunto cru, com peito de peru. Na hora do almoço é sempre uma surpresa.
Um detalhe importante: já estou craque nas geléias. Aprendi a fazer até com uma fruta só, aquela que fica bem velhinha e feinha olhando para gente na fruteira. Ah, e no pão integral também. Na próxima semana o pão será caseiro. Não sei como será depois de congelado.
Minha cozinha é minimalista, nome chique para dizer que é para uma pessoa só, com poucos ingredientes, porque não tenho espaço para armazenar mantimentos (uma prateleira na geladeira e no armário). Vou tanto ao supermercado que já posso comprar fiado.
Acrescentei a salada no almoço porque na correria minha alimentação não estava legal. Faltava verdura, ferro etc. A salada fica um charme, sempre muito colorida e com bastante tomate. Não qualquer tomate, dá licença. O tomate italiano e suas variações é um capítulo a parte. Os que a gente já conhece no Brasil, cereja, italiano, japonês etc são ótimos, mas o meu preferido é o tomate de Salento (uma península entre o Mar Adriático e o Mar Jônico, na região de Puglia, já visitei e merece um post), delicioso, crocante, docinho, minúsculo como uma acelora.
O tempero da salada também é básico. Azeite, azeite, azeite. Divino. Um verdadeiro ouro líquido, responsável por transformar uma simples alface em rainha. Aqui tem de vários tipos e preços. Pode até comer de colherinha como os gregos de tão bom (estou me referindo ao azeite!).
Quando tenho tempo de manhã, ralo uma casquinha de limão, de laranja ou gengibre para dar um up grade na salada. Mas essa folguinha está ficando rara com a chegada do frio; as cobertas me prendem alguns minutos a mais na cama.
Como tudo bem devagar, saboreando. As migalhinhas que escapam fazem a alegria dos benditos pombos e pássaros.

4 comentários:

Marta Cabús disse...

Então, de forma poética você soube descrever muito bem a vida real - de princesa plebéia - Milanesa de uma estrangeira estudante! rs
É isso ai, amiga, bem vinda ao mundo real, mas que faz um bem enorme à alma da gente! Aprendemos a dar valor ao básico, que é muito chique e muito bom! Muitas lições de vida já aprendeste, muitas ainda te aguardam no tempo certo.
Anotei as dicas da super gourmet!
E é verdade, os queijos e embutidos italianos transformam os sanduiches de 'jeans e camiseta' a 'vestidos de gala'! hahaha
Não conheço esse tomate preferido seu, mas deve ser uma maravilha mesmo!
Curta muito tudo isso, porque passa! E você sentirá saudades até dos momentos difíceis e da solidão!

Bjsss, fica com Deus!

Martinha

Unknown disse...

Mi,
Seu blog simplesmente lindo e ineressantissimo!! A sua cara!!
Deu pra viajar junto com vc!
Ansiosa pra chegar logo quinta.
Beijos,
Iza.

Paula Dantas disse...

Michelíssima... seu blog é muito melhor que qualquer queijo ou azeite italiano, quiçá que o tomate de Salento, aposto!!!

Saudade grande!
NÃO PARE DE ESCREVER...

um beijão

Anônimo disse...

Vida comezinha para uns... vidão para outros. Estas experiências enriquecem tanto! E pensar na vida de braisleira com duas empregadas em casa...