segunda-feira, 27 de outubro de 2008

CONQUISTA

Ficava arrasada porque todo mundo aqui sempre está com alguma coisa na mão para ler. Jornal, revista, apostila, livros fininhos, livros enormes, pedacinho de papel.
Vários jornais são distribuídos de graça, numa versão menor, mas com as resenhas das principais manchetes. Livros a 1 euro tem de monte. E banquinhas de livros usados? A rodo.
Meu problema não é com a leitura, mas ler em pé, como um equilibrista dentro de um metrô lotado ou no tram (bondinho elétrico – lindo de morrer) que chacoalha mais do que pau-de-arara e faz curvas como uma Ferrari (oh exagero!).
Hoje tive minha primeira conquista: estava cheia de tralhas voltando da faculdade, com bolsa de um lado e sacola de livros do outro, peguei meu livrinho de crônicas e li, feliz da vida, em pé, sem me segurar em nada!
Desci radiante com um enorme sorriso no rosto. Ganhei o dia!

UM DIA DE PRINCESA








Minha amiga me convidou para conhecer o castelo de seu tio, numa cidadezinha perto de Milão. Eu que já tenho minha queda declarada por contos de fada, castelos, príncipe e banhos de princesa, aceitei na hora o convite.

O dia estava lindo. Embora estivéssemos na metade de outubro o frio ainda não tinha chegado e o sol reinava absoluto. O vento fresco (gelado para a nordestina aqui) transformava o céu em oceano de tão azul.


Depois de um majestoso almoço, fomos fazer um passeio pelas colinas para apreciar o panorama colorido do outono. Cada colina tinha uma cor predominante: rosa, amarela, laranja, vermelha, verde, lilás, com a neblina formavam uma paisagem de fábula.


Tiramos várias fotos. Os salões eram lindos, repletos de afrescos e móveis antigos, me senti uma verdadeira princesa.

Depois do tour pelo castelo, fomos para a praça principal participar da festa dedicada às crianças. A entrada era franca, simplesmente porque toda a cidade era convidada. Serviram polenta com queijo gorgonzola e faziam inúmeras brincadeiras iguais às nossas (quebra-pote, corrida do ovo, cabo de guerra, achar a maçã na farinha etc).

O tio-princípe estava muito contente porque iria me apresentar a um padre brasileiro responsável pela paróquia da cidade. Dom Leandro, um paraense muito simpático e adorado por todos do lugar.


No fim da tarde apareceu a lua cheia para coroar a jornada. Enquanto eu a admirava, meus pensamentos férteis vagavam, criando inúmeras situações em cada um dos lugares que visitei, quando ouvi minha amiga dizer que somente seu tio morava em todo aquele complexo, além dos empregados. Não acreditei e ela confirmou: sozinho, sozinho, porque ele não casou, não teve filhos e seu único irmão morava em outra cidade.

Naquele momento me dei conta que minha vida de plebéia era muito mais divertida e que minha família, grande, barulhenta, "maleducada" me faz muita falta. Já estou na contagem regressiva para a nossa festa de Natal!








domingo, 26 de outubro de 2008






Felicidade
Amar.
Saudade.
Vida tranquila.
Comer bem.
TUDO ENGORDA!
Eu estou uma bolota!
VIVA!

DESCOBERTAS


Assim começa meu dia durante a semana: acordo sem a mínima vontade de me levantar, refaço a cama, tomo um banho para suavizar as marcas de lençol do rosto (aqueles não-sei-quantos fios sequer passam perto do meu quarto), tomo um café básico: café com leite, pão com queijo, pego minha merenda (maça ou banana) e almoço (misto congelado e salada de folhas e tomate num pote de iogurte que eu reciclei) e vou para a escola de italiano que é pertinho da minha casa.
Saio uma hora antes de acabar a aula porque tenho apenas 30min para chegar na universidade de metrô. Na sala-auditório somos 350 alunos. Sempre chego em cima da hora e esbaforida. A aula termina 15h e vou almoçar.
Sento na pracinha, abro meu embrulho de papel laminado e meu pote de plástico e mato minha fome. Pego o metrô de volta e chego em casa para fazer minhas tarefas domésticas. Roupa para lavar, roupa para passar, fazer o jantar, organizar os lanches e almoços, varrer o quarto, estudar, ir ao supermercado etc.

“BEM VINDA AO MUNDO REAL” já dizia minha amiga Larissa.
Confesso que relendo o texto acima, meu cotidiano é igual ao de tantas outras pessoas, que além das minhas tarefas hodiernas acrescentam inúmeras outras como trabalhar, marido, filho, parentes e tal. Porém atrás desta vida banal existem inúmeros aprendizados e conquistas que me fazem amar o meu dia-a-dia extraordinariamente comum.
Descobri que o sanduíche congelado se transforma no sanduíche mais fresco do mundo 6h depois de sair do freezer, fica perfeito!
Descobri que comer no banquinho da praça vendo as árvores, os pássaros e as pessoas que passam é mais prazeroso do que olhar para a pia da cozinha ou para a janela do vizinho. Agora no outono fica tudo mais bonito!
Descobri que detesto pombos. São sujos, caras-de-pau e intrometidos. Descobri também que sou o alvo deles. Já fizeram cocô na minha cabeça, no meu braço, no meu ombro...Aqui na Itália dizem que traz sorte, veremos!
Descobri que os queijos e embutidos da Itália são capazes de transformar um simples misto em algo precioso. Invento mil e uma combinações. Faço um tipo diferente de cada e coloco tudo no congelador.
Estou começando a colocar nos sandubas geléias, pimenta, azeitona, para aumentar minha surpresa. Nunca sei se meu sanduíche será agridoce, picante, com presunto cru, com peito de peru. Na hora do almoço é sempre uma surpresa.
Um detalhe importante: já estou craque nas geléias. Aprendi a fazer até com uma fruta só, aquela que fica bem velhinha e feinha olhando para gente na fruteira. Ah, e no pão integral também. Na próxima semana o pão será caseiro. Não sei como será depois de congelado.
Minha cozinha é minimalista, nome chique para dizer que é para uma pessoa só, com poucos ingredientes, porque não tenho espaço para armazenar mantimentos (uma prateleira na geladeira e no armário). Vou tanto ao supermercado que já posso comprar fiado.
Acrescentei a salada no almoço porque na correria minha alimentação não estava legal. Faltava verdura, ferro etc. A salada fica um charme, sempre muito colorida e com bastante tomate. Não qualquer tomate, dá licença. O tomate italiano e suas variações é um capítulo a parte. Os que a gente já conhece no Brasil, cereja, italiano, japonês etc são ótimos, mas o meu preferido é o tomate de Salento (uma península entre o Mar Adriático e o Mar Jônico, na região de Puglia, já visitei e merece um post), delicioso, crocante, docinho, minúsculo como uma acelora.
O tempero da salada também é básico. Azeite, azeite, azeite. Divino. Um verdadeiro ouro líquido, responsável por transformar uma simples alface em rainha. Aqui tem de vários tipos e preços. Pode até comer de colherinha como os gregos de tão bom (estou me referindo ao azeite!).
Quando tenho tempo de manhã, ralo uma casquinha de limão, de laranja ou gengibre para dar um up grade na salada. Mas essa folguinha está ficando rara com a chegada do frio; as cobertas me prendem alguns minutos a mais na cama.
Como tudo bem devagar, saboreando. As migalhinhas que escapam fazem a alegria dos benditos pombos e pássaros.