Corri muito. Não sentia o peso da mala, a perda dos produtos que deixei no controle de bagagem, tampouco pensava no bolo esfarelado. Tinha que pegar o avião de qualquer jeito, a final, o aniversariante estaria me esperando no aeroporto, depois de atravessar um continente (12h no avião), chegar a Pau (1h30 no avião), enfrentar 3h de carro para me buscar em Toulouse para depois voltarmos a Pau.
A funcionária da companhia aérea me viu correndo e perguntou se eu era a Sra. Kumar, Kapar, qualquer coisa parecida. Balancei a cabeça concordando sem fôlego. Quando ela checou meu bilhete, ligou imediatamente para saber por que não fizeram meu check-in.
Olho para trás e vejo a Sra. K., uma indiana elegante, caminhando bem tranqüila, sem pressa e eu ali, descabelada, suada, um trapo, agradecendo por embarcar.
Estava tão cansada que dormir a viagem inteira. Faltava ainda outra conexão em Frankfurt.
Como tinha 3 horas de espera, despachei a mala para me livrar do peso e fiquei com a caixinha na mão.
Tive a idéia de comprar calda de chocolate para consertar o bolo, mas como pedir em inglês? Meu alemão não passa de “sim/não”, “bom dia”, “obrigado” e “eu te amo”. Lancei um chocolat sauce, até que funcionou, mas ninguém vendia essa caldinha que eu queria.
Vi umas barras de chocolate, tentei comprar e pedir para derretê-la, assim daria certo. Ainda nada!
Peguei um café e relaxei, tentava me convencer - mais vale é a intenção, mas a idéia de ver meu bolinho arrumado não saía da cabeça.
Sentado à mesa na minha frente tinha um chef de cuisine lendo jornal. Respirei fundo, pedi mil desculpas pelo incômodo e perguntei se ele trabalhava no restaurante em frente. Ele confirmou e o melhor de tudo, era italiano, Giuliano, um anjo! Perguntei se ele poderia derreter o chocolate para mim e contei toda a minha via crucis.
Ele se predispôs na hora, usou o próprio chocolate do restaurante, limpou a caixinha que estava melecada, arrumou as velinhas, e disse que me fizeram chorar agora ele me faria sorrir.
Agradeci, mas não me contive, abri o berreiro de emoção.
Lá vou eu de novo para o avião com a cara inchada de choro (dessa vez de alegria) e cansada de andar tanto, mas feliz.
Finalmente desembarquei e coloquei em ação o plano B: pegar as malas e ficar só de casaco. Perfeito!
Pensei, como sempre penso (pecadora contumaz confessa!), no final dá tudo certo.
Quer dizer, ainda não acabou.
Saí toda sorridente do desembarque e não vi ninguém me esperando.
Meia hora, uma hora, duas horas e nada! Sem celular, sem telefone do hotel, não sabia o que fazer. Resolvi esperar por mais 2 horas, se não ele aparecesse iria para um hotel.
Estava com frio, com fome e quase morta.
Depois de quase três horas ele chegou sorridente e me deu um abraço. Não perguntei nada, não reclamei, retribui o abraço e não queria soltá-lo mais.
A viagem dele também foi estressante, perdeu o vôo da conexão (por problemas da companhia aérea), a mala não veio, o transito até Toulouse estava insuportável. Ele também chegou um trapo.
No carro, cansados e com fome, não vimos a saída correta para a cidade e nos perdemos, quase 2h de atraso. O jeito foi parar num posto de gasolina e comprar um sanduíche fuleirinho mesmo.
Ao chegar no hotel, devoramos o pão com salame italiano, claro!
Deixamos os parabéns e o bolinho para o café da manhã. (lista exaustiva!)